Peru - Puno

Estava eu em Cusco e assim como aconteceu em Lima, tive uma incrível vontade de ir para um lugar diferente. Aproveitei as inúmeras agências de viagens da região e fui cotar alguma cidade que desse para fazer um "snap-packing"¹
Analisei as cidades possíveis e, como eu já tinha lido a respeito de Puno, decidi que este seria meu destino.
 

Esse é mais um post com vídeo :) Assistam pelo meu canal do youtube:    Isla Taquile

A viagem pode ser reservada um dia antes ou até no mesmo dia, visto que o ônibus sai a noite do terminal de Cusco. A viagem ocorre pela noite inteira, são 110 soles numa viagem de mais ou menos 7h (o bus sai as 22 h e chega por volta das 5h.)
Puno fica a 3827m acima do nível do mar, então se prepare que o "soroche"² pode atacar aqui. É através desta cidade que temos acesso ao famoso lago Titikaka³, o maior lago navegável do mundo que divide Peru e Bolívia. Dizem que o lado boliviano é bem mais bonito e contempla a famosa Copacabana e Isla del Sol, muitas pessoas aproveitam este trajeto para ultrapassar a fronteira e seguir mochilando pela Bolívia. 
Voltando ao lado peruano, o lago Titikaka tem uma área de 8.300km² mais ou menos, 190km de comprimento e a profundidade máxima de 280m (a média de 140m).
Quando fechei com a Agência em Cusco (Viajes Peru - guia.com), recebi as devidas coordenadas que incluíam o horário que eu  chegaria e quem me esperaria, afinal era um ônibus de viagem comum da Huayruro tours ou da Cruz del Sur (que foi o meu bus) e o guia estaria já em Puno esperando com todos os tickets dos passeio que eu havia fechado.
Quando cheguei, não havia ninguém lá esperando... Claro que primeiro levei aquele susto, tipo, acho que fui enganada, mas aí olhei a hora e imaginei que estava muito cedo e outro ponto a meu favor era que a agência em que eu fechei o tour, tinha um escritório e dentro da rodoviária também, então se caso tivesse qualquer problema, eu poderia recorrer à eles. Procurei pela rodoviária um lugar para um café, mas não tive coragem de encarar nenhum dos restaurantes. O banheiro de lá também era sinistro, não havia descarga e sim um super balde com água armazenada...Passando este momento, voltei ao lugar onde os ônibus chegavam e minha guia estava lá (ufa!). Tivemos as devidas orientações e partimos para a aventura.

Primeira parada: Islas Flotantes de los Uros 
Nosso primeiro passeio começou cedo, fomos em direção ao píer e pagamos um barcos. O trajeto de Puno até a primeira ilha leva cerca de 30 minutos.

 As Islas Flotantes de los Uros foi uma das coisas mais impressionantes que já vi na vida, primeiro por que como o nome já diz, as ilhas flutuam... Não são ilha comuns, são ilhas artificiais construídas com totora (um mato que cresce no lago Titikaka), junto com um material que parece xaxim de plantar samambaia na enttrada de casa e junco presas com uma corda.
Os Uros foram povos descendentes dos Incas, na era pré-colombina, porém já é uma etnia extinta e hoje quem domina a região são os Aymaras. Na ilha se fala uma mistura dos idiomas Quechua e Aymaras, mas encontramos alguns habitantes que falam um pouco de espanhol ou pelo menos entendem.
Fomos recebidos -pelas mulheres que vivem na ilha com suas lindas roupas coloridas e o presidente da ilha que nos explicou como as ilhas foram construídas.

É uma verdadeira aula com demonstrações da ilha em miniatura. Estas ilhas passam por manutenção constante, ou seja, periodicamente os homens das ilhas vão em busca de totoras para repor na ilha, senão ela some. 
Andar pela ilha uma experiência única, você se sente flutuando, dá até um medinho, pois elas estão seguras por cordas e temos a impressão que ela balança um pouco hehe.

Só para vocês terem uma idéia, nestas ilhas vivem cerca de 300 famílias em mais de 40 ilhas. Na que visitamos, a população era de 48 pessoas distribuídas em 10 famílias.
Nestes locais, vivia-se de pesca, mas com o crescente turismo da região, o artesanato tornou-se a maior fonte de renda. Também é possível fazer um passeio (pago a parte) de barco de totora, chamado pelo presidente da ilha de Mercedez Benz :)

 
Após todas as explicações, somos convidados a conhecer as casas também feitas de totoras e o artesanato. Algumas pessoas seguiram para o passeio no Mercedes Benz do presidente, eu achei muito turistão e preferi ficar na ilha conversando com as moradoras e vendo seus estilos de vida. Pensa num povo fofo!!
Aproveitei para comprar um colar pintado a mão pelas mulheres da ilha. 

Quando o pessoal voltou do passeio de barco, era hora de seguirmos para a próxima parada "Isla Taquile".

Segunda parada: Isla Taquille
Saindo de Uros, o barco leva mais ou menos 1:30h para a Ilha Taquile.

Essa é um ilha mesmo, após descer do barco, o jeito é se preparar, respirar fundo e começar o trajeto de subida, pois a cidade fica no alto... bem no alto! são mais de 550 degraus de pura subida.
A Isla Taquile está a 4000m do nível do mar e pela primeira vez depois de muitos dias no Peru, senti o que era o tal soroche (pelo menos acho). No trajeto de subida, havia um mix de sol na cabeça (aliás, queimei meu coro cabeludo) e frio... Ventava bastante, mas no meio do caminho o calor tomou conta e senti uma forte dor de cabeça que só foi curada quando cheguei ao topo e tomei um chá oferecido pelos locais: O milagroso chá de coca.Acho que essa era a sensação que o soroche causa.
A vista do topo é linda! Algo incrível mesmo. Quando cheguei lá na parte mais alta da ilha, estava acabando uma festa típica na praça principal.
O almoço foi em uma casa de habitantes com os antigos costumes de seu povo. Devo dizer que foi o melhor almoço da minha vida peruana. A truta (trucha) dessa região é muito famosa e claro que não deixei de provar e entender o porquê.



A primeira coisa que te oferecem na casa é o chá, que curou minha dor de cabeça. Aliás, em todos os locais que você for no peru, você será recepcionado pelo chá de coca, não aceitá-lo é uma desfeita!
Outro prato típico que provei nesta casa é a maravilhosa sopa de Quinua. Olha que nem de sopa eu sou fã! 
O local conserva seus costumes de seu antepassados, o povo Aymara, todos na ilha se conhecem e você consegue reconhecer quem é quem pelo tipo de gorro que usam: Os homens solteiros usam cores de gorros diferentes dos casados, as autoridades usam um chapéu preto sobre o gorro, mulheres usam um lenço preto na cabeça e todos os homens usam camisas brancas e um colete.
Após conhecermos os costumes e almoçarmos, demos uma volta pela ilha e apreciamos a bela paisagem do Titikaka. 

Feito isso, a descida nos esperava...A cada passo, a paisagem parecia mais e mais bonita... E o céu??


Após os mais de 500 degraus abaixo, chegamos ao barco e voltamos à Puno, numa viagem interminável e com o rio bem agressivo, que fazia o barco balançar e pular muito,  agora o sol estava baixando e o frio começava a tomar conta de novo.
Chegando em Puno, tinha tempo para passear pela cidade antes de pegar meu bus de volta à Cusco.

O que fazer eu Puno?
A cidade em si parece não ter muitos atrativos, mas ela é na verdade a capital folclórica do Peru e o que leva o pessoal até ela é o fato de ser o local no lado peruano onde se é possível navegar pelo lago Titikaka.
Se tiver um tempinho, ande pelas ruazinhas da cidade, quando fui, achei engraçado que havia uma faixa chamando a atenção das pessoas para um possível terremoto, tranquilo! Além disso, tem o básico: A Plaza de Armas com Igreja e chafariz. Vale destacar que não é qualquer Igreja, esta Catedral foi construída no século XVIII no estilo barroco, é considerado Patrimônio Histórico da Nação desde 1972 e em 1964 recebeu a visita do Papa Paulo VI.
Fora isso, tem alguns bons restaurantes e cafés na popular Calle Lima, que vai muito bem nas noites frias da cidade. Quando finalizei o tour estava bem frio e até o horário de pegar o bus de volta para Cusco, o café me salvou a vida e o tempo... Entrei no "la Hosteria" bem avaliado no tripadvisor, o local tem aquele clima de "amigos" e possui os bolos mais famosos da região.

Feito o tour por Puno, me dirigi à rodoviária para pegar meu bus noturno por mais 7h de volta à Cusco, fechando com chave de ouro minha estadia pelo Peru.

Vocabulário:
¹"snap-packing" é como chamamos aquela escapadinha de final de semana, ou de um curto período de tempo. São consideradas as viagens relâmpago, muitas vezes com baixo orçamento, coisa de mochileiro :)
²Aoroche é o mal de alitude. 
³Titikaka - Se pronuncia Titihaha e significa Puma de Pedra (dizem que o local tem a forma de uma puma...)

Fico por aqui nessa minha expedição peruana. no próximo post, começo explorar Cancun-México!Até lá!

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